‘Em transe’: um estudo quali-quantitativo sobre o papel das experiências dissociativas e somatoformes nas crenças e rituais religiosos

Maraldi, E. O.; W. Zangari. 2015. ‘Em transe’: um estudo quali-quantitativo sobre o papel das experiências dissociativas e somatoformes nas crenças e rituais religiosos. In Boletim – Academia Paulista de Psicologia, v.35, 382-408.

RESUMO

As pesquisas internacionais têm sustentado a correlação entre experiências dissociativas e determinadas crenças e experiências religiosas ou alegadamente paranormais. Tais crenças e experiências estão também correlacionadas com outras variáveis ligadas à dissociação, como queixas somáticas e trauma infantil. Porém, há escassez de estudos no Brasil. A presente pesquisa emprega uma metodologia qualiquantitativa, abrangendo um total de 1450 respondentes brasileiros. Os resultados mostram que os membros de religiões mediúnicas, os esotéricos e ocultistas e os indivíduos sem afiliação definida não diferem entre si em termos de dissociação cognitiva, mas pontuam acima dos ateus e agnósticos e dos católicos e evangélicos. As religiões mediúnicas apresentam média significativamente maior em dissociação somatoforme (sintomas conversivos e psicossomáticos) comparativamente aos demais grupos. Quanto maior é o nível de crença paranormal, dissociação e transliminaridade (uma medida de experiências místicas e de alteração da consciência) dos participantes, maior é seu nível relatado de sincretismo religioso e de religiosidade individual. Não há diferença entre os grupos para os relatos de trauma na infância. As experiências dissociativas desempenham um papel de legitimação das crenças religiosas e espirituais, sobretudo, em contextos influenciados pelo sincretismo new age, ao facilitarem a alteração de consciência e a transição do quadro de referência cotidiano ao religioso.

Palavras-chave: dissociação; precisão do teste; análise fatorial; correlação estatística.